sábado, 17 de outubro de 2015

Sobre o que leem de nós.

É  preciso que se diga que somos analfabetos.
Mesmo os mais letrados.
Digo isso de forma incisiva e categórica, com todas as certezas que alguém pode ter, ainda que soe ofensivo e pejorativo.
Não me refiro ao saber ler um livro, outdoor ou assinar o nome em um documento. Não, eu me refiro a "ler o outro".
Não lemos o homem que passa ao nosso lado na rua, pra ser sincera, sequer o notamos.
Não "sacamos" as pichações inscritas nos muros, bancos de ônibus...
Não lemos.

Quando ousamos  ler, ou quando somos lidos, uma verdade vem a tona: quando lemos não sabemos interpretar.
Somos colocados em grupos, guetos, recebemos rótulos e muitas vezes somos "taxados", sim com X mesmo.
Recebemos aquele preguinho que nos pendura num mural. O mural dos grudentos, chatos, perguntadores, insuportáveis, arrogantes, sensíveis, fracos, filhinhos de papai, viado, puta, sapatona... enfim uma lista enorme que seria perda de tempo descrever e esse espaço nem caberia.

Reflito sobre isso, porque percebo que sou frequentemente mal interpretada. Seja na lida, seja em relacionamentos. Pode ser que eu me encaixe em mais de uma desses rótulos, ou em nenhum.
O fato é: se o outro aponta algum defeito em mim, deve ser porque na leitura que fizeram de mim algum implícito ou explícito escapou das entrelinhas...
Nem sempre é doce ouvir coisas que nos magoam, mas é preciso perceber que pode nos ser útil.
A vida é uma constante metamorfose. E eu serei a eterna borboleta que ora é lagarta no casulo, ora crisálida que desabrocha em um belo par de asas azul-violeta e despenca-se livre no mar da vida.

Serei o que sou, até me convencer de que posso ser melhor.
Se me magoo é pelo direito de saber que tenho o direito de ser quem eu sou, e de mudar não pelo outro, mas se acaso eu me convencer de que posso ser melhor do que sou.

E decidi que quero ser.